Lúcifer

Satanás

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domingo, 17 de março de 2013

Relato-Passeio com o Licantropo



Quem contou esse caso foi um vizinho que eu tive há muitos anos. Ele já era bem idoso e natural de Pedras Altas/RS. Quando adolescente, ele tinha um amigo um pouco mais velho, chamado Rodolfo, que todos na cidade diziam se transformar em lobisomem. Ele, porém, não ligava para esses contos. Um certo dia, Rodolfo o convidou para irem a uma quinta (chácara) abandonada colher pêras. Era época das pêras e aquelas eram as melhores de todas, as deliciosas pêras d'água.
Ora, Nilo, esse era o nome do meu vizinho, então com 14 anos, não pensou duas vezes e correu a pegar dois grandes sacos de estopa para carregar as pêras e foi com o amigo rumo a tal quinta, que ficava bem longe da cidade, dava uma caminhada de mais de uma hora. Mas, adolescentes gostam de aventuras e lá se foram os dois.
A primeira parte do passeio correu normalmente. Os dois atravessaram propriedades, dois riachos e mais algumas cercas, conversando e rindo alegremente. Chegando na quinta, tiveram uma visão maravilhosa; as pereiras estavam carregadas de frutas maduras, amarelinhas, um cheirinho maravilhoso inundando o ar, as abelhas em volta. Comeram até não poder mais e encheram os sacos de pêras. Então já estava esfriando um pouco e a tarde logo iria cair, e os dois garotos começaram a fazer o caminho de volta. Foi então que as coisas começaram a ficar estranhas.
Nilo percebeu que Rodolfo começava a farejar o ar, como um cachorro; em certo momento teve também a impressão, mas não podia jurar, de que o nariz do amigo estava um pouco mais comprido. Apertaram o passo. Ao passarem por um banhado, em certo momento Rodolfo saiu correndo e se meteu dentro do banhado, iniciando uma luta feroz com uma capivara. Apavorado, Nilo viu o amigo, com uma força descomunal, matar a capivara literalmente a patadas, e depois voltar com a caça no ombro, como se fosse a coisa mais normal do mundo, dizendo que iriam ter um bom assado para o jantar. Um pouco mais acima, Rodolfo começou novamente a farejar, como um lobo. Saiu correndo para dentro do mato e voltou com um tatu, também morto a pontapés. Seus dentes estavam avermelhados e mais afiados.
Aquele que seria no futuro meu vizinho, a essa altura, em pânico, não quis saber de mais nada, a não ser salvar a própria pele... atirou longe os sacos com as pêras e saiu correndo como um louco, cortando caminho pelo mato, até chegar na cidade... foram momentos de horror, segundo ele relatava. Já estava escuro e ele sentia o bafo quente do lobisomem em sua nuca, a persegui-lo... quase morto de cansaço, não acreditou quando viu as primeiras casas, estava a salvo, e do meio do mato se ouviam uivos aterradores...
Desse dia em diante, meu vizinho teve certeza da existência dos lobisomens, e quanto ao Rodolfo, nunca mais foi visto...